Linhas Tortas: SANTO DO PAU OCO

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Entre o final do século XVII e início do século XVIII, no auge da mineração do ouro em Minas Gerais, para fugir dos impostos da Coroa Portuguesa (20%), os mineiros fabricavam imagens de santos em madeira oca e recheavam o espaço vazio com ouro em pó e pedras preciosas e, assim, passavam despercebidos pelos postos de fiscalização. Na expressão popular brasileira, o termo “santo do pau oco” designa o indivíduo de caráter duvidoso, com ações fraudulentas, uma pessoa mentirosa, falsa, hipócrita. A carreira militar é o reflexo da frase escrita no alto do prédio da Academia Militar das Agulhas Negras: “Cadete: ides comandar, aprendei a obedecer!”. Essa frase simples é o “ouro puro”, a maior riqueza da carreira militar. Os verbos, cada um deles, “ides”, “comandar”, “aprendei”, “obedecer”, são as “pedras preciosas”. E eles estão no corpo e na mente de cada cadete do Exército Brasileiro. Estão lá na alma do combatente, no seu suor, no sofrimento e na alegria. Estão lá nas lembranças dos heróis do passado, como Caxias. Os “manípulos” eram a menor fração de tropa de infantaria (120 homens) das Legiões Romanas (5.000 homens) . Os soldados lutavam lado a lado, ombro a ombro, o escudo na mão esquerda protegia a si e ao companheiro do lado e assim sucessivamente toda a tropa lutava e se protegia. Um só corpo, uma só infantaria, um só destino. Essa é a essência do pensamento de “ser militar”. Do soldado ao general. “O forte, o cobarde seus feitos inveja de o ver na peleja, garboso e feroz” (Gonçalvez Dias: “Canção do Tamoio”). Numa frase simples, o poeta traz ao momento atual do país um fato cruel e injusto. Há os que não aprendem nas escolas porque já sabem o contrário, suas raízes são de outra terra onde o fogo impera ao comando do “rei do mal”. Esses não pertencem aos “manípulos” porque jamais ali seriam aceitos. Esses são os modernos “santos do pau oco”, travestidos de guerreiros, com o peito cheio de medalhas de latão e roupas vincadas que não foram puídas pelo combate real e nem manchadas pelo sangue das feridas do amigo ao lado, “ombro a ombro”. Tão impuros como a poeira provocada pelo vento de final de tarde no sertão, tão amargos como boldo. Nenhuma fruta merece a ofensa de ser o seu adjetivo, por mais amarga que for. O poeta Gonçalves Dias elege o “forte”, o guerreiro “tamoio”, o índio brasileiro, para confrontar a inveja daquele que, desde o nascimento, é fraco, covarde, puxa-saco, traidor. O herói tamoio representa a essência da liberdade e da resistência de um povo contra os “SANTOS DO PAU OCO!”

Por: Elias do Brasil / escritor e historiador, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e articulista.

2 COMENTÁRIOS

  1. Belo resgate do que é ser na alma, não na farda vincada, coberta de brilhante latão, o verdadeiro soldado! Soldado este que mais cedo ou mais tarde há de mostrar que Caxias ainda o inspira…!

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