A morte de um jovem em São Paulo jogou luz num problema grave de saúde pública.
Vitor Augusto Marcos de Oliveira, de 25 anos, morreu nesta sexta-feira (6), em São Paulo, sem o atendimento que precisava para conseguir respirar e conter dores nas pernas. Saiu de uma UPA, peregrinou em busca de atendimento, mas foi recusado por hospitais que não tinham vagas ou condições de atender uma pessoa com mais de 200 quilos.
“Nós todos indignados com essa situação, com desfecho trágico que aconteceu neste caso concreto. Determinaram a correta e imediata apuração de todos os fatos,”, diz Carlos Alberto de Castro Soares, coordenador dos hospitais estaduais de São Paulo.
A mãe que se desesperou pedindo socorro quer para outros a atenção que o filho não teve.
“Que os governantes colocassem isso em prática. O meu apelo em prática. Eu peço, encarecidamente, governantes: lutem para que outras mães não passem pelo o que passei”, diz Andréia Marcos da Silva.
Vitor dava os primeiros passos para conseguir uma cirurgia bariátrica pelo SUS. Já a Eliane da Silva, espera na fila. É quase uma vida inteira de luta contra a obesidade. A cirurgia é necessária para que ela se livre das dores terríveis, da pressão alta e siga trabalhando e cuidando da família.
“Você só passa na consulta da médica para a bariátrica de seis em seis meses. Cada consulta é um exame. E, até hoje, eu não consegui. Desde 2019 nessa luta para tentar fazer essa cirurgia bariátrica. Eu me sinto totalmente humilhada, abandonada, discriminada”, afirma a estilista.
A cirurgia bariátrica ganhou impulso no final dos anos 1990 para tratar um dos maiores problemas de saúde pública no mundo e no Brasil. Reduzindo o tamanho do estômago e muitas vezes também desviando o intestino, os pacientes perdem rapidamente o peso que não conseguiam controlar de outras maneiras.
O país que tem que lutar contra a fome precisa com urgência enfrentar também a obesidade. A última pesquisa nacional de saúde mostrou que 60% da população está acima do peso. Os casos mais dramáticos são os dos obesos mórbidos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica calcula que cerca de 5 milhões de pessoas necessitam da cirurgia; 75% dependem do SUS e a maioria não encontra o que precisa.
Enquanto o número de obesos cresce, o de cirurgias bariátricas diminui. Pelo SUS, foram 12.568 em 2019; 3.768 em 2020; 2.864 em 2021 e 5.448 em 2022, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica.
A pandemia contribuiu para a redução. E os obesos foram, junto com os idosos, as maiores vítimas da Covid.
A cirurgia é recomendada para quem tem IMC acima de 35 e doenças como diabetes e hipertensão associadas. O Índice de Massa Corpórea é uma relação entre peso e altura. O tratamento cirúrgico depende de acompanhamento de especialistas, nutricionistas e psicólogos antes e depois da operação.
“Na verdade, esse pacientes precisam ter um acesso. Esses serviços são regionalizados e, portanto, cada um deles deveria ter a sua fila regulamentada. Mas nós precisamos, fundamentalmente, aparelhar esses hospitais, aparelhar essas instituições de saúde, e dar condições para que esses pacientes entrem nesse sistema”, afirma Antônio Carlos Valezi, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica.
O Ministério da Saúde declarou que o SUS oferece assistência integral às pessoas com sobrepeso e obesidade, com atividades preventivas e assistência clínica e cirúrgica.
*G1