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Olimpíada tem recorde de atletas LGBT+: veja quem são eles e por que homens são minoria no grupo

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Para quem é fã de esporte, os Jogos Olímpicos funcionam quase como um calendário de vida. E a Copa do Mundo, de certa forma, também. É provável que você lembre qual a primeira Olimpíada da qual tem memória. E a cada quatro anos, essas memórias se renovam. É um evento que ajuda a explicar as questões de cada tempo. Quer entender o regime nazista? Recorra aos Jogos de Berlim-1936. A guerra fria? Olhe para Moscou-1980 e Los Angeles-1984. A projeção da potência econômica chinesa? Pequim-2008.

No futuro, os Jogos de Tóquio serão um retrato de muitas camadas dos dias atuais. A mais evidente é a pandemia de covid, que fez, pela 1ª vez na história, uma edição ser atrasada em um ano e ter limitação quase total de público. Mas também lembraremos de como esportes como o skate e o surfe trouxeram uma nova geração de jovens atletas e espectadores para a Olimpíada.

O evento deste ano também está marcado por levantar a bandeira da equidade de gênero, como escrevi na coluna da última semana. E pelo número recorde de atletas LGBTQIA+, assunto que trago hoje.

Um levantamento do site Outsports, focado em diversidade no esporte, apontou que os Jogos de Tóquio têm ao menos 169 atletas que se identificam abertamente como lésbicas, gays, bissexuais, transexual (apenas uma), queers e não-binários. Esta não é só a maior quantidade da história, como supera a soma do que foi registrado em Londres-2012 (23) e na Rio-2016 (56). A lista completa está no fim do texto.

São competidores de pelo menos 28 países em 32 modalidades. O Brasil tem 14 representantes ‘LGB’.

Se você acompanha as redes sociais, é muito provável que se deparou recentemente com algum vídeo de Douglas Souza, atleta da seleção brasileira de vôlei. Seja cantando Pabllo Vittar, sambando na cama da Vila Olímpica, brincando com o companheiro de quarto Maurício Borges, ou fazendo o que ele faz de melhor: colocar a bola no chão da quadra adversária.

Douglas é o único homem gay da delegação brasileira e exemplifica uma das grandes discrepâncias no levantamento de atletas olímpicos LGBTs: as mulheres são 90% do grupo.

“Quero ser um espelho de pessoas e jovens fora do padrão. Eu sou fora do padrão. É muito legal ser diferente e quero que as pessoas entendam isso. Se eu, um garotinho magrinho, pequeninho do interior de São Paulo conseguiu, então todo mundo também pode conseguir. É assim que eu quero ser lembrado daqui alguns anos quando eu parar de jogar”, afirmou Douglas em uma live realizada pelo Taubaté, clube em que ele atua, no ano passado.

Douglas tem razão. Ele é diferente do que costumamos entender como o ‘padrão’ de atleta. De forma estereotipada. Isso tem a ver, é claro, com uma construção histórica do esporte.

Olhem para o lema olímpico: ‘Citius, altius, fortius’. ‘Mais rápido, mais alto, mais forte’, em latim. E olhem para como a sociedade marginalizou LGBTs desde que as Olimpíadas da era moderna surgiram, em 1896.

Até os Jogos de Seul, em 1988, a homossexualidade (até então tratada como ‘homossexualismo’) era considerada uma doença para a Organização Mundial da Saúde (OMS), portanto o exato oposto do lema das Olimpíadas. Além de ter sido uma condição extremamente estigmatizada durante a epidemia do HIV/Aids, nos anos 1980. Até hoje, ainda existem ao menos 69 nações que penalizam homossexuais criminalmente.

Ser um homem LGBT sempre foi um convite a se retirar do meio esportivo. Das aulas de educação física no ensino fundamental ao esporte de alto nível.

Quantos Douglas não estamos perdendo por conta do preconceito?

Sob o comando da japonesa Seiko Hashimoto — que assumiu a presidência do Comitê Organizador após a renúncia de Yoshiro Mori por comentários machistas —, a Olimpíada de Tóquio tenta se aproximar da bandeira da diversidade sexual. Em abril, ela visitou o Pride House Tokyo Legacy, primeiro centro permanente do Japão para LGBTs.

O Comitê ainda tem a presença fundamental de Fumino Sugiyama, homem trans e ex-atleta da seleção japonesa de esgrima. Hoje ativista, ele luta pela diversidade no esporte em um país ainda conservador no assunto. Só em março deste ano, o Japão teve uma decisão judicial histórica pelo reconhecimento do casamento gay. Foi a última nação do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) a aprovar o tema.

Enquanto o Japão tenta avançar no assunto, atletas LGBTs tornam Tóquio a sede da Olimpíada mais diversa da história até agora. Que Paris-2024 seja ainda mais.

*Estadão Conteúdos

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Last Updated on 28 de julho de 2021 by Larissa Ellen