Como se não bastassem todas as mazelas causadas pela poluição e destruição da nossa camada de ozônio, a humanidade agora terá de enfrentar uma hecatombe: ficar sem vinho num futuro não muito distante.
É claro que esse texto é superlativo e destaca um bem supérfluo (para alguns, pra mim não, diga-se de passagem). Mas imaginem a humanidade sem vinho? Ou sem vinho acessível?
A bebida já não é das mais baratas e pode ficar ainda mais cara com o aquecimento global. É o que revela um estudo divulgado na revista Nature essa semana.
Prevejo um futuro sombrio sem uma bela taça de pinot noir. A pesquisa destaca que cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais nas regiões costeiras e baixas de Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia poderão correr o risco de desaparecer até ao final do século devido às ondas de calor mais frequentes com as alterações climáticas. São consequências dessas alterações: as altas na temperatura, na precipitação, umidade, radiação e CO2.
Atualmente, a maioria das regiões vitivinícolas está localizada em latitudes médias, onde o clima é quente o suficiente para permitir a maturação das uvas, mas não excessivamente quente, e relativamente seco para evitar pressões de doenças. No entanto, com as mudanças climáticas, as regiões tradicionais de produção de vinho em regiões costeiras e de baixada, como Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia, correm o risco de desaparecer até o final do século.
Por outro lado, regiões como Washington, Oregon, Tasmânia e norte da França podem se tornar mais adequadas para a produção de vinho devido ao aumento das temperaturas.
Mas apenas uma pequena parte desta perda (menos de 20%) poderá ser compensada pela deslocação das vinhas para zonas montanhosas, considerando altitudes até 1.000 metros.
E não se trata de um futuro distante, pra daqui 2 ou 3 gerações. Eu mesma corro o risco de passar a minha aposentadoria (se um dia ela acontecer, vide o arrocho no nosso sistema previdenciário) sem vinho.
O artigo da Nature destaca ainda que as mudanças climáticas têm impacto na fenologia das videiras, antecipando o período de colheita em muitas regiões do mundo em 2 a 3 semanas, nos últimos 40 anos. Essas modificações afetam composição da uva na colheita e alteram a qualidade e o estilo do vinho.
Além disso, o aumento da seca reduz o rendimento e pode resultar em perdas de sustentabilidade.
Evidências arqueológicas sugerem que a produção de vinho começou durante o período Neolítico, há cerca de 6.000 a 8.000 anos, nas regiões da atual Geórgia, Armênia, Irã e Turquia. Nessas áreas, foram encontrados vestígios de jarros de argila com resíduos de vinho, indicando que as comunidades antigas já estavam envolvidas na produção e consumo da bebida. Hoje, a produção global de uvas gira em torno de 80 milhões de toneladas de uvas. Das uvas produzidas, 49% foram transformadas em vinho e bebidas alcóolicas.
Para enfrentar esses desafios, os produtores podem adotar estratégias de adaptação, como mudanças no material vegetal, aumento da área de produção e manejo do vinhedo. No entanto, essas adaptações podem não ser suficientes para manter a produção de vinho economicamente viável em todas as áreas.
Além disso, o artigo discute a expansão das regiões vitivinícolas para áreas anteriormente não adequadas, levantando questões sobre a preservação ambiental. A irrigação suplementar é mencionada como uma opção quando os recursos hídricos sustentáveis estão disponíveis.
Enfim, amigos…diante do cenário, só resta investir em adegas. Guardem os bons rótulos, principalmente aqueles das regiões mais quentes, porque daqui a alguns anos, essas garrafas podem virar raridades.
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*R7/Foto: REPRODUÇÃO/IA GENERATOR