Após o deslizamento de terra que resultou na morte da líder comunitária Sammya Maciel, de 45 anos, no fim da tarde de quarta-feira (19), moradores da comunidade Fazendinha 2, na Zona Norte de Manaus, relataram que os riscos de tragédia no local eram denunciados ao poder público há pelo menos dez anos. Ao todo, nove casas de alvenaria foram destruídas e dez famílias foram afetadas.
Segundo moradores, a líder comunitária Sammya Maciel morreu enquanto tentava ajudar famílias afetadas pela tragédia. Ela chegou ao local poucos minutos após o deslizamento de terra.
Três pessoas foram resgatadas com ferimentos leves, encaminhadas para uma unidade de saúde da capital e já receberam alta. Alguns moradores, acompanhados de bombeiros, conseguiram retornar para resgatar documentos e roupas. As famílias foram abrigadas em uma igreja no bairro.
O líder comunitário Felipe Santana esteve no local da tragédia para ajudar os moradores afetados e relatou que os pedidos de ajuda diante dos riscos de deslizamento em dias chuvosos, feitos ao poder público, ocorrem há pelo menos uma década. Ele também criticou a falta de atenção da prefeitura.
“Apareceram hoje que aconteceu a tragédia. Isso aqui já foi denunciado muitas e muitas vezes, como muitas outras áreas em Manaus, mas infelizmente só procuram fazer alguma coisa quando acontece isso, quando perde uma vida, quando acontece uma tragédia, aí que tentam resolver, mas já foi uma vida aí que, infelizmente, por negligência do poder público, aconteceu o que aconteceu”, disse o líder comunitário.
A moradora Jane Ruiz teve a casa interditada pelo poder público diante do risco de novos deslizamentos.
“O barro está na porta da casa, está entrando e infiltrando água por baixo, ficou o risco de o barranco desabar mais, então por isso está interditada e a gente está indo para casa de familiares”.
A área onde ocorreu o deslizamento é classificada pelas autoridades como de risco. Segundo a Secretaria de Habitação, o crescimento populacional intensificou a ocupação irregular, levando muitas pessoas a construir suas casas em regiões vulneráveis. Atualmente, estima-se que 52 mil habitações estejam localizadas em áreas de risco em Manaus.
“São 1.600 áreas de risco em Manaus e é impossível hoje, financeiramente, com os recursos próprios da prefeitura, nós termos como, de imediato, retirar todos que precisam. Então, a gente precisa ir tateando meio que no escuro em busca dessas alternativas. Boa vontade não nos falta, mas o trabalho realmente é muito árduo”, destacou o secretário municipal de habitação, Jesus Alves
A chuva parou no início da manhã desta quinta-feira (20). De acordo com a atualização mais recente da Defesa Civil, até às 20h, foram registrados 70,60 milímetros de chuva, totalizando aproximadamente 320 milímetros ao longo do mês, valor que já supera a média esperada para todo o mês de março. Foram registradas 72 ocorrências envolvendo riscos de desabamentos, alagamentos e erosões causadas pelo temporal. Um comitê de crise foi montado pela prefeitura.
Vítima morreu tentando ajudar
Sammya morava próximo ao local do deslizamento, mas não teve a residência afetada. Segundo Felipe, ela não hesitou em ajudar os vizinhos.
“A Sammya veio ajudar, veio socorrer as pessoas e infelizmente perdeu a vida. A gente está aqui como liderança, como cidadão, como morador, para tentar amenizar o sofrimento dessas pessoas”.
De acordo com o governo do Estado, Sammya foi socorrida e encaminhada ao Hospital e Pronto-Socorro (HPS) Platão Araújo, mas chegou à unidade de saúde sem vida. O velório da líder comunitária acontece na manhã desta quinta-feira (20), em uma igreja localizada na rua onde ocorreu o deslizamento.
Chuva causa estragos em Manaus
A forte chuva que atingiu Manaus durante a tarde desta quarta-feira causou alagamento nas principais avenidas da capital. Um dos pontos mais afetados foi a Avenida Torquato Tapajós, que liga as Zonas Norte e Centro-Sul da cidade.
Na Avenida Constantino Nery, na Zona Centro-Sul, carros ficaram praticamente submersos no trecho entre a Avenida Pedro Teixeira e a Rua Loris Cordovil, em frente à Arena da Amazônia.
*G1/Foto: Reprodução/Redes Sociais