Novas alegações e mensagens envolvendo uma suposta rede de tráfico de pessoas, pornografia e escravização sexual de mulheres dirigida pelo influenciador Andrew Tate, ex-campeão mundial de kickboxing, e seu irmão Tristan, estão incluídas em um documento judicial obtido pela agência de notícias Reuters e descrevem em detalhes como os irmãos operavam.
As mensagens vieram à tona após a prisão dos irmãos em 29 de dezembro sob a acusação de formar uma gangue criminosa para explorar sexualmente mulheres.
O arquivo, de 61 páginas, produzido por funcionários do tribunal de Bucareste, compreende atas de uma audiência que estendeu a detenção dos irmãos, além de evidências apresentadas pela acusação.
O britânico-americano Andrew Tate, de 36 anos, que vive na Romênia desde 2017, e seu irmão Tristan, de 34 anos, negaram todas as alegações contra eles.
Seu advogado, Eugen Vidineac, disse que não poderia confirmar ou negar publicamente informações sobre o caso enquanto a investigação estivesse em andamento. A unidade contra o crime organizado da Romênia também disse que seus promotores não poderiam comentar a investigação.
‘Você será minha para sempre’
Uma mulher da Moldávia pensou que era amor. Tate, um influenciador com milhões de seguidores online, ofereceu-lhe uma nova vida. Eles até discutiram o casamento. Ele pediu apenas uma coisa: lealdade absoluta.
“Você deve entender que, uma vez que você é minha, você será minha para sempre”, disse Tate
Essa mensagem de WhatsApp, de 4 de fevereiro de 2022, é uma das dezenas citadas pelos promotores romenos que alegam que ele traficou e explorou sexualmente várias mulheres.
Tate pediu à mulher que se juntasse a ele na Romênia. “Nada de ruim vai acontecer”, ele disse. “Mas você tem que estar do meu lado.”
No mês seguinte, os promotores romenos dizem que Tate estuprou a mulher duas vezes enquanto tentava alistá-la em uma operação de tráfico de pessoas focada em fazer pornografia para a plataforma online OnlyFans, um site que permite que as pessoas vendam vídeos explícitos de si mesmas.
Os irmãos enganaram e intimidaram seis mulheres para “transformá-las em escravas”, disseram os promotores no documento.
O advogado Vidineac disse que as supostas vítimas dos irmãos não foram maltratadas, mas “viveram às custas dos famosos Tates”, de acordo com o documento do tribunal. “Elas estavam alegres e ninguém os forçava a fazer essas coisas”, acrescentou.
Vidineac reconheceu no documento que Andrew Tate e a mulher moldava tiveram relações sexuais, mas ele disse que foi consensual e a acusou de fabricar as alegações de estupro.
Duas das seis mulheres citadas disseram à emissora de TV romena Antena3 no dia 11 de janeiro que elas não são vítimas e os Tates são inocentes. A emissora as identificou apenas pelos primeiros nomes, Beatrice e Iasmina.
“Você não pode me listar como vítima se eu disser que não sou uma”, disse Beatrice à emissora.
As outras quatro mulheres, incluindo a moldava, não comentaram publicamente.
A Reuters informou que não pôde confirmar de forma independente a versão dos eventos fornecida pelos promotores ou pelo advogado de defesa, e não conseguiu entrar em contato com as seis mulheres citadas no documento para comentar o assunto.
‘Muito medo’ dos irmãos
Tate conheceu a mulher moldava virtualmente no Instagram em janeiro de 2022. No mês seguinte eles se conhecerem pessoalmente em Londres e, em março, ela foi para a Romênia, disseram os promotores no documento do tribunal, que inclui trocas de WhatsApp entre 4 de fevereiro e 8 de abril.
Em 11 de abril, a polícia invadiu uma das propriedades dos irmãos em Bucareste por suspeita de que uma mulher americana estava sendo mantida lá contra sua vontade.
De acordo com os promotores, a mulher americana – outra das supostas seis vítimas – conheceu Tristan Tate online em novembro de 2021, depois pessoalmente em Miami no mês seguinte. Eles disseram que ele a atraiu para a Romênia expressando sentimentos falsos por ela e prometendo um relacionamento sério, pagou por sua passagem de avião e disse que poderia ajudá-la a ganhar “100 mil por mês” no OnlyFans.
Tristan Tate a buscou no aeroporto de Bucareste, em um Rolls-Royce, em 5 de abril de 2022, e a levou para sua casa, que tinha dois guardas armados, disse o documento do tribunal.
Tristan teria dito a ela que ela não era uma prisioneira, mas que os guardas não a deixariam sair sem sua permissão. Ele disse que era perigoso para ela sair “porque ele tinha inimigos”.
Havia câmeras por toda a casa, que eram monitoradas remotamente, disseram os promotores no documento. Uma vez ele mandou uma mensagem para a americana dizendo que podia ver onde ela estava e o que ela estava fazendo, disseram eles.
Quando ela se mudou para outra casa com quatro das “namoradas” de Andrew Tate, ela foi autorizada a sair, mas apenas se acompanhada por outras mulheres, disseram os promotores, acrescentando que que ela tinha “muito medo” dos irmãos.
No documento, o advogado de Tate disse que a mulher americana tinha um telefone celular, acesso à internet e a liberdade de sair de casa como quisesse.
A americana não falou publicamente sobre o caso.
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