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Terra 92 | O filho se torna o pai e o pai se torna o filho: A história de um herói da vida real

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Hoje peço licença dos leitores desta coluna, dos editores, dos meus colegas colunistas, jornalistas e todos os grandes profissionais que trabalham neste Portal. Hoje não falarei sobre o multiverso nerd, hoje deixarei de lado a fantasia, os sabres de luz, as naves espaciais, os feitiços, os dragões, os superpoderes…mas sim, hoje ainda falarei sobre heróis, ou melhor, herói…um herói da vida real, o herói da minha vida…meu pai.

Na próxima terça-feira, dia 27 de julho, fará um ano que ele faleceu e através desta coluna, eu gostaria de homenageá-lo.

MEU HERÓI

Foto: Arquivo Pessoal

Odaci de Lima Okada é o seu nome. Nascido em Maués, terra onde meu avô, Hideomi, aportou no início do século passado vindo do Japão, meu pai desde pequeno se acostumou com a adversidade. Ainda criança foi morar em Parintins, pra onde meu avô foi convidado a morar após anos de serviço como dentista na terra do guaraná. Lá meu pai conheceu uma paixão que o acompanhou para a vida toda: o boi Garantido.

Meu pai quando criança em Maués e já adolescente em sua formatura: Imagens: Arquivo pessoal

Já adolescente veio terminar os estudos em Manaus, aos 18 anos entrou para o exército e posteriormente para a Polícia Militar. Já na Polícia Militar ele teve a oportunidade de fazer um curso no Rio de Janeiro e lá conheceu mais uma paixão: o Botafogo de Futebol e Regatas, naquela época gloriosa de Didi, Nilton Santos e Garrincha.

Sempre nas festas do seu querido boi Garantido, junto com minha mãe e amigos. Imagens: Arquivo Pessoal

Torcedor fanático do boi Garantido e do Botafogo, paixões estas que ele tinha em comum com minha mãe e as transmitiu para mim também. Meu pai foi Coronel da Polícia Militar do Amazonas, onde galgou os principais postos da corporação: foi Ajudante de Ordem do Governador Danilo Areosa, Delegado de Polícia em Parintins, Comandante do Corpo de Bombeiros, Comandante do Comando de Policiamento da Capital, Chefe da Casa Militar do Amazonas e Comandante interino da Polícia Militar.  

Início da sua carreira na Polícia Militar e depois já como Coronel PM. Imagens: Arquivo pessoal

Como eu tinha/tenho orgulho dele. Quando eu era pequeno gostava de vê-lo marchar no Desfile de Sete de Setembro e quando eu era adolescente, em vez de pedir pra ele me deixar um pouco afastado de onde estavam meus amigos no colégio, eu fazia questão que ele parasse bem em frente deles. Ser filho do Coronel Okada sempre me foi motivo de orgulho.

Foto do casamento com minha mãe e depois a comemoração de seus 45 anos de casados. Imagens: Arquivo pessoal

Mesmo tendo a disciplina e a rigidez militar, meu pai era uma pessoa amável, apaziguadora, divertida…fazia de tudo pela família, principalmente pela minha mãe, Calmi e pelo netinho Matteus (meu sobrinho, filho da minha irmã Karla)…tinha o sorriso fácil e sempre um conselho sábio para dar. Era uma pessoa excepcional, de um coração enorme.

O FILHO SE TORNA O PAI E O PAI SE TORNA O FILHO

Ele sempre foi meu herói e fiz questão de tatuar isso em minha pele para homenageá-lo. Imagens: Arquivo pessoal.

Se hoje eu sou nerd e escrevo esta coluna, o grande responsável foi ele, que juntamente com minha mãe, sempre me incentivou a ler desde muito cedo, através de gibis e filmes. Uma das primeiras memórias que eu tenho de quando eu era criança foi ver Superman, do diretor Richard Donner, no cinema e de como aquilo me impactou. Ver um dos meus heróis preferidos dos quadrinhos ganhar vida na telona foi algo surreal. Lembro também, apesar da pouca idade, de que a fala de Jor-El para o seu filho Kal, logo no começo do filme, me marcou profundamente: ‘O filho se torna o pai e o pai se torna o filho’, mas o seu verdadeiro significado só fui entender depois de muito tempo na minha vida. E se existe um Superman na vida real, este foi meu pai. Meu amor e admiração por ele eram tão grandes, que quando criança eu sempre fazia um cartão de Dia dos Pais, onde eu recortava a cabeça dele de uma foto e colava em um corpo do Superman que eu desenhava.

Um dos cartões de Dia dos Pais que fiz pra ele quando eu era criança. Imagem: Arquivo Pessoal

Mas…infelizmente, até o Superman tem sua fraqueza. Meu pai em 2004 teve um infarto e se recuperou, em 2008 teve outro…mas também se recuperou. Em 2012 veio mais um choque, ele foi diagnosticado com um linfoma na laringe…mas tal qual o Superman enfrenta a Kriptonita, ele enfrentou o câncer com muita coragem e determinação, fez radio e quimioterapia e venceu. Porém a batalha deixou várias sequelas, que o debilitaram imensamente, porém nunca tiraram sua vontade de viver.

Foi quando a frase ‘O pai se torna o filho e o filho se torna o pai’ fez pleno sentido pra mim, pois naquele momento ele, apesar de da sua imensa força de vontade, passou a depender muito de mim, então ele, o pai, se tornou o filho…e eu, o filho, me tornei o pai, cuidando dele na velhice, como ele cuidou de mim quando eu era criança.

A VOLTA DO INIMIGO

Assim como Apocalipse é um monstro kriptoniano que veio à Terra para derrotar o Superman, o câncer voltou à assolar meu pai. Era começo de 2019, faltavam poucos meses para o meu casamento, quando desconfiamos que a doença poderia ter voltado…pensei em adiar a festa, mas ele, mesmo assustado, disse que não, que fazia questão de me ver casar e ser feliz, como de fato eu sou, com minha esposa Mayra. E a festa foi tão bonita…bem simples, mas muito bonita…e ele estava muito feliz. Até meus tios que moram em São Paulo vieram pro casamento, acho que foi a última grande reunião da família, mas naquela época nem fazíamos ideia disso.

Minha festa de casamento, como ele estava feliz. Imagem: Arquivo pessoal

Logo após a minha Lua de Mel, ao retornarmos, saiu o resultado do exame que confirmou a volta da doença. Mas dessa vez não seria possível fazer radioterapia, tamanha foi a sequela deixada pelo tratamento de 2012, ele teria que operar, retirar metade da mandíbula. Lembro que quando o médico disse aquilo, eu fiquei sem chão…mas meu pai não, sempre altivo, não titubeou e disse que faria sim a cirurgia e assim o fez, em julho daquele ano ele operou com sucesso. Mas três meses depois a doença voltou, ele fez quimio, mas cada vez mais a doença se mostrava agressiva e ele estava cada vez mais debilitado. Em Março de 2020, pouco antes da pandemia, ele deu entrada no hospital pela última vez e quatro meses depois, em 27 de julho de 2020, ele finalmente descansou.

CORAGEM ACIMA DE TUDO

Dezembro de 2019, nosso último Natal juntos. Imagens: Arquivo pessoal

Durante os quatro meses que meu pai ficou internado, dois meses nem sequer pudemos vê-lo por conta da pandemia, o hospital proibiu qualquer tipo de visita por conta da Covid-19. Neste tempo, apesar de ele não falar mais devido à retirada da mandíbula, ainda fazíamos vídeo chamadas e nos comunicávamos por mensagem de texto, em uma delas eu disse:

-Pai, sei que está difícil, mas não desiste não.

E ele prontamente me respondeu:

– Não desisto jamais!

Isso mostrava muito de quem ele era, uma pessoa corajosa, determinada…um verdadeiro guerreiro. E ele lutou muito, não se rendeu até o fim. E mesmo doente, sua determinação e coragem, emocionava a todos, inclusive a equipe do hospital.

Superman. Imagem: Warner Bros.

Meu pai não era um alienígena com superpoderes, ele não usava capa…mas sim, ele era um herói. Tal qual os heróis da ficção, cujo a principal função é nos inspirar por suas ações e pelo seu caráter, muito além de seus superpoderes…ele, como herói da vida real, sempre me inspirou e inspirou todos aqueles que estavam à sua volta e que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Com ele aprendi que todos somos heróis de nossas próprias vidas.

Seu Odaci, ou Oda, ou ‘Kokadinha’ como seus amigos o chamavam. Sempre com um sorriso no rosto, que é como sempre me lembrarei dele. Imagem: Arquivo pessoal

Pai, sei que hoje o senhor está livre das dores e do sofrimento…que hoje, assim como o Superman, o senhor voa entre as estrelas e que daí de cima o senhor continua cuidando de mim, da mamãe e de nossa família. Obrigado por ter tido a honra de ser seu filho, obrigado por todos os ensinamentos, obrigado por ter sido meu melhor amigo, obrigado por ter sido um esposo maravilhoso pra mamãe, obrigado pelo avô amoroso que o senhor foi para o Matteus, o sogro exemplar para a Mayra…pelo amigo admirável que o senhor foi e sempre continuará sendo em nossos corações. Sinto muito sua falta, confesso que ainda estou tentando me recompor da sua perda, mas me inspiro no seu exemplo para seguir em frente. Te amo…até um dia. Para o alto e avante!

4 COMENTÁRIOS

  1. Texto maravilhoso, Patrick. Daqueles que ficam como registro cristalino do que realmente vale a pena na vida de cada um de nós. O amor e seu poder de cura, mesmo após a partida. O amor e sua presença eterna. Me fizeste chorar duas vezes, sacana. Pela lembrança do meu herói e por eu nunca ter escrito algo tão bonito sobre ele.

    • É uma honra pra mim receber este elogio seu, meu amigo. Você que é uma referência de profissional pra mim. Mas como eu disse, meu pai me ensinou que todos somos heróis de nossas histórias, assim como ele foi pra mim, o seu pai foi pra você e você também é e será para os seus filhos. Abs e muito obrigado!

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