“Quando eu vi minha filha recebendo a quimioterapia, naquela dor, pedi a Deus que aquilo fosse amenizado, que ela não sentisse dor, e que aquela dor viesse pra mim”.
Esse é o relato de uma mãe que acompanha a filha no tratamento de um câncer (linfoma de Hodgkin). O que pouca gente sabia era que, naquele momento, ela também lidava com o próprio diagnóstico de câncer de mama.
Tudo começou em fevereiro, quando a fonoaudióloga Heliana Barbary começou a sentir cansaço em um dos braços e percebeu um inchaço na mama. Ela decidiu buscar uma unidade de saúde no município de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, onde reside com duas filhas e o marido, que também é fonoaudiólogo.
“Eu fui para Rio Branco e, no dia 8 de março, recebi o diagnóstico. Nesse dia, começou a investigação no Hospital de Amor e a médica me alertou que iria fazer a biópsia porque realmente era um câncer de mama”, relata.
Além do impacto da notícia, ao retornar a Cruzeiro do Sul, Heliana percebeu que a filha Emannuele, de 18 anos, apresentava uma tosse forte, que pensou ser Covid. Ao buscar exames, foi preciso fazer um raio-X, que detectou que a jovem tinha um tumor.
E foi assim que, 20 dias depois de tomar conhecimento de que tinha um câncer, Heliana também teve que lidar com o diagnóstico da filha.
“Levei ela no pronto atendimento do Hospital Regional do Juruá e, lá, a doutora Emanuela Batista atendeu e disse: ‘olha, eu estou achando estranho, vou bater um raio-X’. E ela percebeu que tinha uma massa diferente e solicitou uma tomografia. Na tomografia, o resultado foi que era massa neoplásica no mediastino. Ela me orientou a procurar um médico oncologista e tudo”.
A mãe contou como foi a busca pelo atendimento para iniciar o tratamento da filha.
“Peguei a Emannuele de novo, dia 28 de março, e já saí daqui de Cruzeiro do Sul, peguei um táxi e fui para Rio Branco[capital]. Quando eu cheguei em Rio Branco, procurei informações sobre os médicos que poderia levá-la. Levei a um cirurgião no 29 [de março], e no mesmo dia ela entrou no centro cirúrgico para retirada do material para fazer a biópsia. O resultado foi um Hodgkin, que é o nome do tumor. Deu um linfoma de Hodgkin no mediastino”, explicou.
Foi então que ela passou a focar na saúde da filha, mais do que no próprio tratamento. No início, Heliana conta que não quis falar publicamente que também estava em tratamento, pois queria que as orações e mensagens positivas fossem dedicadas apenas à filha.
Fé e parceria
“É como se eu tivesse sido resgatada. Parou. Quando a médica falou, eu fiquei sem chão, e mesmo sem entender o que estava acontecendo, procurei confiar em Deus, pedir força de Deus e entender que aquele momento ia precisar de muita maturidade, muita força minha e que eu teria que ter aquilo. Não tinha outra solução. Então, comecei a me doar o máximo que eu pudesse, tanto pra mim, quanto pra ela, pra que a gente conseguisse forças uma na outra. Eu lembro o dia da primeira quimioterapia dela, olhei pra ela e disse: sua dor, é a minha dor. Nós vamos segurar na mão uma da outra, e vamos nos ajudar. Foi isso que aconteceu. A gente segurou a mão uma da outra”, relembra.
Enquanto aguardava respostas sobre a própria saúde, Heliana permaneceu apoiando a filha. Ela conta que o tumor da jovem já apresenta redução, mas o dela, por conta da demora no diagnóstico final, teve metástase. As duas seguem em tratamento.
Assim como a mãe, Emannuele diz que se apega à fé para atravessar o processo. Para ela, é um momento de provações e resiliência.
“Apesar dos diagnósticos semelhantes, os processos, eu sempre procurei não me entregar a isso. Sempre fui uma pessoa de muita fé, e acredito no poder da união em orações”, destaca.
Heliana contou ainda que, ao ver Emannuele receber a quimioterapia, lembrou do momento do nascimento da filha. Ele disse que precisou ter muita fé ao saber que a menina teria uma paralisia cerebral parcial que afeta o movimento das pernas.
“Quando ela nasceu, pedi que Deus salvasse a minha filha, porque era minha primeira filha, e eu cuidaria dela, não importa como ela ficasse. E no dia da quimioterapia, pedi a mesma coisa. Ela tinha dificuldade de respirar, então a única solução seria entubar[Emannuele]”.
Ela relembrou o apoio dos médicos.
“Graças ao doutor André Alexandre [médico dela], que teve uma visão clínica maravilhosa, melhorou muito o tratamento da minha filha. Também agradeço ao doutor Rafael [outro médico]. Eles me explicaram que era um tumor raro e a medicação também seria difícil. A medicação falta no sistema público, porque eles não compram em grande quantidade porque pode estragar, por ser um tumor raro”.
Heliana contou que foi realizada uma campanha para adquirir o medicamento em falta e para arcar com alguns exames.
“A Emannuele hoje está em outro quadro, está melhorando, a gente tem fé que ela vai ter alta”, disse.
Gratidão
Mãe e filha enfatizam a importância da fé e do carinho recebido por familiares e conhecidos nesse processo.
“Temos o apoio da família, que é o mais importante. Eu agradeço muito aos que intercedem, afinal são muitos. E eu creio que há esperança”, diz Emannuele.
Além da resiliência que precisaram demonstrar, Heliana ressalta que tenta tirar algum aprendizado desse período. Ela cita como exemplo que passou a olhar para si com mais cuidado.
“Só Deus mesmo para dar forças, discernimento, tem horas que eu paro, respiro, choro, peço a deus, me renovo, e continuo a batalha. Procuro sempre tirar um aprendizado disso tudo e ajudar outras pessoas, de repente. A gente sabe que tem os médicos, o tratamento, mas as correntes de oração ajudam muito”, finaliza.
Foto: Arquivo pessoal
*g1