Investigação da Polícia Federal no âmbito da Operação Concierge, deflagrada na última quarta-feira (28), aponta para um suposto laranja da fintech T10 Bank que recebeu auxílio emergencial em 2020, período mais crítico da pandemia de Covid-19. É o que mostra relatório encaminhado à Justiça Federal de Campinas, interior paulista.
A fintech T10 Bank, que teria sido utilizada para lavar dinheiro e ocultar patrimônio do PCC (Primeiro Comando da Capital), foi constituída em maio de 2020, por Antonio Tadeu Lerach.
“Ou seja, apesar de figurar como sócio de dezenas de empresas e ter constituído capital social inicial no montante de R$ 1 milhão na abertura da T10 Bank, Antonio Tadeu Larach seria beneficiário de programa social do governo federal, destinado a pessoas vulneráveis”, diz trecho da investigação da Polícia Federal.
O Estadão Conteúdo busca contato com os citados na Operação, que podem enviar manifestação para heitor.mazzoco@estadao.com, marcelo.godoy@estadao.com e fausto.macedo@estadao.com .
Lerach foi excluído do quadro societário em fevereiro de 2021 para dar lugar a José Rodrigues Costa, Patrick Filipi Cozzi, Fábio de Biasi e Denis Arruda Ribeiro. Este, apontado como líder do T10 Bank.
“Por conseguinte, causa estranheza que em um lapso tão curto de tempo a empresa tenha tido seu controle societário alterado, sugerindo que Antonio Tadeu Lerach não teria um real envolvimento com a empresa”, afirmam os investigadores.
Diante dos dados levantados, os investigadores solicitaram RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) junto ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Comunicações atípicas foram apontadas. “Sem causar surpresa, todos os envolvidos possuíam comunicações atípicas no COAF, um total de 138 comunicações, tendo a equipe de investigação analisado pormenorizadamente e materializado os indícios em duas informações policiais que acompanharam a representação pela quebra do sigilo fiscal e bancário”, diz trecho do relatório da PF.
A investigação aponta Lerach como “testa de ferro” da organização criminosa e “laranja” em diversas empresas. Segundo informações do relatório da PF, ele seria “interposta pessoa” de Denis Arruada em diversos empreendimentos de fachada. “O primeiro ponto é o patrimônio informado em suas Declarações de Imposto de Renda. A declaração do exercício 2019 informa rendimentos tributáveis de R$ 6 mil e bens e direitos no montante de R$ 1. Nos exercícios 2020 e 2021 (ele) foi omisso na entrega. Já no exercício 2022 indica recebimentos de pessoa física no montante de R$ 22,6 mil e bens e direitos no montante de R$ 120 mil”, cita a apuração.
A operação apura um suposto auxílio a pessoas físicas e jurídicas com criação de contas invisíveis para evitar rastreamento das autoridades públicas, o que permite lavagem de dinheiro e evita bloqueio de valores. O PCC é apontado como cliente do grupo. A I9Pay também é uma fintech investigada na operação. Conforme os dados da investigação, as empresas eram hospedadas em instituições financeiras de grande porte autorizadas pelo Banco Central (Bancos Bonsucesso e Rendimento). A T10 Bank não respondeu questionamentos do Estadão. A I9Pay negou as acusações. Os bancos dizem cooperar com as investigações.
Com a palavra, a Inove Global Group
Os advogados do Inove Global Group ainda não tiveram acesso integral ao conteúdo da investigação. A empresa nega veementemente ter relação com os fatos mencionados pelas autoridades policiais e veiculados pela imprensa. Também ressalta total disposição em colaborar com as investigações. Importante ressaltar que o Inove Global Group é uma empresa de tecnologia ligada a meios de pagamento. E não uma Instituição financeira e nem banco digital.
Com a palavra, o BS2 (antigo Banco Bonsucesso)
O Banco BS2 informa que está colaborando com fornecimento de informações à Polícia Federal e Receita Federal relativas a movimentações financeiras de um cliente. Estamos prestando todos os esclarecimentos demandados pelas autoridades competentes e reafirmamos nossa atuação em conformidade com a regulamentação vigente.
Com a palavra, o Banco Rendimento
O Banco Rendimento segue todas as regulamentações do Banco Central e órgãos competentes, também aplicadas desde o início da relação com a T10 Bank, onde todas as avaliações recomendadas foram executadas. No momento da operação realizada hoje, o Banco Rendimento já não prestava mais os serviços mencionados para a T10 Bank. O Banco Rendimento está colaborando com as investigações.
*R7/Foto: JORGE SANTOS/OESTE NOTÍCIAS/ESTADÃO CONTEÚDO – 07.11.2005