A World, iniciativa que registra a íris de humanos para que ela sirva como uma “impressão digital” mais avançada, diz que seu objetivo é diferenciar pessoas de robôs cada vez mais convincentes.
No entanto, para muitos moradores de São Paulo, uma das cidades dos 18 países onde o projeto atua, ter o olho fotografado era um jeito de ganhar um dinheiro extra: cerca de R$ 600 em criptomoedas (na cotação da última sexta-feira, 24).
Mas, a partir deste sábado (25), o projeto não poderá mais remunerar quem participar dele, segundo determinação da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) divulgada um dia antes. O órgão é responsável por fiscalizar o comprimento da Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD).
A ANPD entende que o pagamento “pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos”.
E que essa interferência pode acontecer “especialmente em casos nos qual potencial vulnerabilidade e hipossuficiência (expressão jurídica que se refere à falta de condições financeiras) tornem ainda maior o peso do pagamento oferecido”.
Os registros da íris dispararam em São Paulo desde o fim do ano.
Antes focado no Itaim Bibi e nos Jardins, áreas nobres da capital, o escaneamento está agora em bairros como Brasilândia, Cidade Dutra e Cidade Líder, de renda mais baixa.
Muitas pessoas que o g1 entrevistou em pontos da periferia e também no Centro da cidade não sabiam explicar do que se tratava o protocolo World e nem se havia riscos.
Por ora, São Paulo é a única cidade no Brasil que participa. Mas a World tem planos de estender o projeto para outras regiões do país muito em breve, disse Rodrigo Tozzi, gerente de operações da Tools for Humanity, em entrevista ao g1 no último dia 17.
A Tools é a empresa responsável pela operação da World, uma iniciativa que tem, entre seus fundadores, Sam Altman, da Open AI — a criadora do ChatGPT.
Após a decisão da ANPD, a World disse que “está em conformidade com todas as leis e regulamentos do Brasil” e que “relatos imprecisos recentes e atividades nas mídias sociais resultaram em informações falsas para a ANPD”.
A disparada dos registros
O boca a boca e as redes sociais fizeram a ideia da oportunidade se espalhar. São muitas as postagens que tratam da “venda de uma foto da íris”, especialmente no TikTok.
A contagem de participantes parou, 10 dias atrás, em “mais de 400 mil pessoas”, e não é mais atualizada pela World. Eram 115 mil no começo de novembro passado, quando o projeto foi retomado em São Paulo depois de uma fase de testes, em 2023.
*G1/Foto: Darlan Helder/g1