Inundações causadas por violentas chuvas varreram uma faixa da Europa Ocidental na quinta-feira, 15/07, matando ao menos 126 pessoas, arrastando vilarejos inteiros em águas marrons e revirando carros após um temporal de verão (no Hemisfério Norte) em níveis que não eram vistos na região havia um século.
A brasileira e amazonense Nury Martinez, 37, que mora atualmente na Alemanha relata que nessa época do ano não é para ter tantas chuvas no País, por já estarem entrando no verão.
“A gente está em uma temporada de chuva, apesar de estarmos entrando no verão não era para ter tanta chuva, só que começou a chover forte na região que moro, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, Alemanha. É uma região que tem muitos rios e afluentes, e com o excesso de chuva acima do normal os rios acabaram inundados e como eles passam no meio da cidade, por exemplo, aqui em Eschweiler na cidade onde moro, que foi um dos lugares em que estamos com mais problemas a água transbordou e alagou a parte central da cidade”, contou.
De acordo com a brasileira, em muitos lugares na Alemanha as pessoas estão incomunicáveis, sem informações de seus entes desaparecidos. Principalmente nas áreas inundadas, pois estão sem energia e água potável.
“A área que está inundada não tem água, não tem energia e nem internet. Os familiares das pessoas que moram na região que mais foi afetada estão sem informações, e não sabem se seu parente morreu, desapareceu ou está vivo. Alagaram muitas casas, muita gente está desabrigada, as pessoas perderam tudo, principalmente as que moram no primeiro andar das casas e vai levar meses para recuperar o que perderam e voltar para suas residências. Esse tipo de fenômeno acaba comprometendo a estrutura de muitas casas por serem antigas,” relatou.
Nury Martinez contou também que sua família está tentando ajudar como pode as pessoas próximas a ela que perderam tudo nessa inundação, com doações de roupas e comida. Mas afirma que o governo também está fazendo sua parte em ajudar as pessoas desabrigadas. O vilarejo de Stolberg, próximo a Eschweiler, foi também evacuado por conta do alto risco.
Pelo menos 106 pessoas morreram na Alemanha, o país mais atingido, onde vilarejos inteiros ficaram isolados. Algumas casas foram arrastadas quando um afluente do Rio Reno transbordou. Com o cair da noite de quinta-feira, 15/07, cresceu o temor de que o número de mortos pudesse aumentar, diante das dezenas de desaparecidos.
Mais de 200 mil casas ficaram sem eletricidade. Milhares de pessoas passaram a noite em abrigos improvisados em academias de ginástica ou com parentes após deixarem suas casas. Havia ameaça de mais uma noite de chuvas, enchentes e rompimento de barragens
Em Colônia, várias pessoas morreram, e outras estão desaparecidas depois que um deslizamento de terra provocado pelas fortes chuvas atingiu uma série de casas nesta sexta-feira, 16.
No município de Erftstadt-Blessem, “as casas foram, em grande parte, arrastadas pela água, e algumas desabaram. Várias pessoas estão desaparecidas”, tuitaram as autoridades de Colônia.
“Recebemos chamadas de emergência de residências, mas às vezes não é possível atendê-los”, afirmam as autoridades desta localidade a menos de 40 quilômetros de Colônia.
Na Bélgica, pelo menos 20 pessoas morreram, o que levou o primeiro-ministro Alexander de Croo a apelar por ajuda internacional. Inundações severas também afetaram a Holanda, Luxemburgo e Suíça, e alertas foram emitidos em mais de uma dúzia de regiões da França.
A tempestade extraordinária
Em níveis não vistos na região nos últimos 100 anos, desencadeou apelos para que se acelerem as ações contra as mudanças climáticas e a proteção contra enchentes em meio a eventos climáticos irregulares.
Nas partes mais atingidas da Alemanha, a precipitação em apenas 24 horas foi o dobro da média normal para todo o mês de julho, de acordo com o Deutscher Wetterdienst, a agência meteorológica alemã.

Pelo menos 28 pessoas morreram no Estado da Renânia-Palatinado. Uma região conhecida por sua produção de vinho, os vilarejos ao longo do Vale Ahr foram engolidos pelas águas das enchentes. “De onde vem toda essa chuva? É uma loucura. Houve estrondos espantosos”, disse Annemarie Müller, da localidade de Mayen. “Em 2016 vivemos grandes inundações, mas estas estão ainda piores”, disse Uli Walsdorf, subchefe dos bombeiros de Mayen.
Vídeos mostraram as ruas da cidade transformadas em rios turbulentos e outras tomadas por deslizamentos de terra. Carros foram revirados e jogados de lado como destroços amassados. Vistos de cima, alguns vilarejos pareciam ter desaparecido quase completamente, apenas os topos das casas apareciam nas enchentes
No Estado vizinho de Renânia do Norte-Vestfália, o número de mortos chegou a 43, de acordo com o Ministério do Interior local O Exército enviou tanques e caminhões à cidade de Hagen, onde três de suas pontes foram destruídas, para limpar e remover os entulhos das estradas.
*Estadão Conteúdos