O Primeiro Portal conversou com o Procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo sobre, as falas do Coordenador da Funai no Vale do Javari (AM), o Tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva em uma reunião na Terra Indígena no Vale do Javari onde na reunião encorajou líderes do povo Marubo a disparar contra indígenas isolados caso sejam “importunados” por eles.
Podemos começar sobre a reportagem da Folha de São Paulo que aponta o Coordenador da Funai em reuniões com indígenas da tribo Marubo, incitando atear fogo contra indígenas isolados em casos de importunação? Como o senhor enxerga essa situação e essa declaração?
Na verdade isso representa um retrocesso algo abominável da parte do estado Brasileiro que aliás tem através do seu governante maior tem se manifestado contra os povos indígenas, contra os indígenas isolados. Em nenhum momento a Organização Indígena a Univaja prega esse tipo de política, isso na verdade acaba trazendo mais conflito na região entre povos indígenas, não ajuda em nada no processo de contato com aquele povo. Certamente eles fazem esse contato justamente buscando resolver algum problema interno, social, e o estado brasileiro tem que aceitar o querer dessas populações isoladas, e tem que intervir de alguma maneira oferecendo políticas públicas, mesmas políticas públicas que o estado põe a disposição de todos outros brasileiros. De forma alguma o estado brasileiro pode incentivar o massacre da população indígena isolada.
Nós repudiamos essa manifestação, certamente estamos avaliando uma possível manifestação ao poder judiciário de formalizar. Para buscar socorro, porque nós como população indígena fique livre desse tipo de gente que não serve na administração pública, e, desatente o interesse coletivo, desatente os princípios constitucionais que são justamente o direito da proteção a vida, interesses, cultura e ao modo de ser dos povos indígenas, desatente totalmente o conjunto normativo do Brasil.
Nós temos uma autoridade local (Coordenador da Funai no Vale do Javari ), que autorizou as comunidades que já estavam de certa forma contrária aos povos isolados, de realizarem algo abominável.
Eliésio, sobre os contatos dos índios isolados no Vale do Javari existe números de quantas tribos possam existir nas regiões?
De informação preliminar é que há ainda 16 grupos, que não tem contato algum com a sociedade nacional, é necessário que o estado produza uma política pública de não contato, e proteção das terras indígenas, assim como de preservação das regiões da onde eles transitam, de onde eles vivem. É exatamente o contrário que nós temos visto atualmente, os indígenas estão organizando aquelas regiões. A UNIVAJA tem se contraposto todo esse poderio do estado brasileiro, e agora fica muito mais evidente quando tem um agente do estado, um braço do estado se expressando de forma cabal, as intenções do estado brasileiro com as populações indígenas , sobretudo os índios isolados.
Sobre esse contato das tribos isoladas com outras tribos, inclusive nesse caso de rapto da índia de 37 anos, isso não seria além de uma questão cultural e sim uma violência que foi cometida ? Como o senhor avalia essa situação?
Na verdade não se trata de violência e sim de cultura, no passado, a história já mostra que os povos da região, eles voltaram a ter um crescimento entre a sua população a partir de raptos de mulheres, na medida que vai possuindo o contato com outras sociedade indígena vem acontecendo esse tipo de conflito.
O rapto de mulheres é muito comum na região, o fato que a nossa coletividade vem atuando de forma política, na gestão de conflito interno, na gestão de conflito entre povos indígenas, é o que temos nesse feito nessa situação atual, gerindo os conflitos na medida do conhecimento dos povos, com os interesses, a moral social e externa. Não é uma violência e sim uma questão cultural, e a gente respeita a cultura dos povos indígenas, inclusive de quando o interesse debate de comuns. Eu como Marobo eu preservo o direito dos isolados em fazer o contato, e o que eles necessitam fazer, e também a situação dos Marúbos, e de outras populações indígenas atuando no interesses de todos.

Como os povos indígenas do Vale do Javari viram a atitude do Coordenador da Funai?
Essa situação que saiu na imprensa ainda não foi difundida nas comunidades certamente amanhã (sexta, 23) vamos ter o retorno dessa matéria, que saiu nos veículos, temos um setor de comunicação que geralmente tem um informe uma vez ao dia, e só vamos ter a resposta dessa matéria na sexta (23).
Qual a atitude que os povos indígenas irão tomar em relação ao acontecido?
Vamos buscar socorro na via judicial, porque a situação é bem séria e exige uma posição firme. A conduta do agente público põe em xeque a boa vivência em nossa região.