Ameaças, o retorno de Donald Trump e a entrega equivocada de reféns colocam em xeque o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. A crescente tensão entre as partes reacende o debate sobre a estabilidade dos termos, enquanto a possibilidade de novas ofensivas com mísseis, que colocam em risco a vida de milhares, levanta a dúvida: o acordo está realmente em risco?
Como funciona o acordo de cessar-fogo
- A primeira das três fases do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas inclui a troca de reféns israelenses por presos palestinos.
- Segundo os termos iniciais, 33 reféns mantidos em Gaza pelo Hamas serão soltos neste estágio do cessar-fogo. Em troca, Israel deve libertar cerca de mil presos palestinos.
- Hamas chegou a informar que 183 palestinos serão libertados por Israel.
Anteriormente, Israel e Hamas vinham cumprindo os termos do acordo, em vigor desde 19 de janeiro. No entanto, as acusações mútuas de violações por ambas as partes têm comprometido a estabilidade do pacto desde sua implementação.
Trump disse que, caso o grupo não entregasse os reféns, Israel poderia deixar o “inferno explodir” na Faixa de Gaza. Contudo, Hamas decidiu entregar os corpos após pressões de mediadores.
Rodada de reféns
As tensões se intensificaram quando o Hamas entregou, nessa quinta-feira (20/2), outra rodada de reféns, desta vez apenas os restos mortais de Shiri Bibas, de origem argentina, de seus filhos Kfir Bibas, de oito meses, e Ariel Bibas, de 4 anos, além do idoso Oded Lifschitz, outro refém morto em cativeiro. Os corpos foram transferidos em caixões escuros pelo grupo.
Com a entrega, o primeiro-ministro israelense afirmou que irá eliminar o Hamas. “E com esse espírito: traremos todos os nossos reféns de volta, destruiremos os assassinos e eliminaremos o Hamas e, juntos, com a ajuda de Deus, garantiremos nosso futuro”, prometeu o premiê.
A tensão se instalou quando os militares israelenses afirmaram nessa sexta (21/2) que um dos quatro corpos devolvidos pelo grupo não é o da refém Shiri Bibas. Eles classificaram o fato como uma “violação de extrema gravidade” do acordo, que já era precário. O grupo admitiu o erro na entrega dos corpos e afirmou que, na verdade, o corpo era de uma mulher não identificada de Gaza.
Leonardo Castro de Carvalho, mestre em Geografia pelo Instituto Federal de Brasília (IFB), explicou ao Metrópoles que o cenário político interno em Israel aponta para um risco maior de continuidade do conflito, uma vez que Benjamin Netanyahu enfrenta uma instabilidade interna.
“A forma como ele [Netanyahu] vem conduzindo não só o conflito em gaza, mas a questão da negociação relacionada aos reféns tem gerado maiores descontentamentos internos, tanto no lado político, na organização, política interna de Israel, nos partidos na formação do parlamento”, destaca Leonardo.
O profissional explica que, diante da falta de um cenário político interno favorável, Netanyahu vê a manutenção do conflito como vantajosa. Isso lhe assegura que não haverá novas eleições em breve, permitindo-lhe, por meio de uma narrativa extremista e alarmante, preservar o apoio de partidos radicais que ainda sustentam seu governo.
“Existe uma pressão política de que ele vai pressionar ou tentar explorar situações que vão no sentido da continuidade do conflito por causa do cenário interno político de Israel”, analisa o profssional.